CONTRIBUIÇÃO DA REFORMA: EDUCAÇÃO

 

A Reforma Protestante foi antecedida pela Renascença, movimento que valorizava sobre tudo o humanismo, que sinalizou o fim de um sistema perverso que durou do séc. V- XV d.C, o Feudalismo. Este sistema social se desenvolveu na Europa Medieval através da fusão do que restou da cultura romana e dos povos bárbaros cristianizados. A característica básica do sistema feudal era a dominação e exploração dos camponeses (90% da população européia) pelo clero e nobreza, por meio da servidão.


Por volta do século XIV, fora dos muros do clero, temas dominados pela igreja e poder secular, como política, economia, ciência, as artes e religião, agora eram tratados entre os burgueses, a nova classe emergente da Europa, empoderada pelos lucros do mercado árabe-europeu.


A Renascença fez surgir uma burguesia, que fortalecida e apoiada em sua força econômica, ousaram debater e refletir entre si sobre a valorização do ser humano a partir das artes e da filosofia.


Essa pequena classe elitizada, também favoreceu caminho para o precursor da reforma, John Wycliffe, inglês de Hipswell. Ele tornou-se sacerdote e depois serviu como professor no Balliol College, e doutorou em teologia por Oxford. 


Destacou-se pela firme defesa dos interesses nacionais contra as demandas do papado, ganhando reputação de patriota e reformista. Wycliffe afirmava que havia uma grande incompatibilidade entre o que a Igreja era e o que deveria ser, por isso defendia reformas.


O Dr. Wycliffe condenava a ostentação do alto clero, e o extremo desprezo da igreja com relação aos fiéis camponeses que viviam em situação de miséria, sem proteção social, sem direito se quer de frequentar uma escola básica. Além de seus discípulos, Wycliffe influenciou John Huss, Jerônimo de Praga e outros que foram abafados pela inquisição.


A Renascença foi contrária a concepção religiosa daquela época, e buscou centralizar o homem em todas as questões sociais. Ousadamente, alguns expoentes do humanismo bancados pelos mecenas, promoveram ciências além dos concílios de Roma e, intencionalmente preparam o caminho para a Reforma Protestante.


O que se podia esperar de um movimento que defendia o antropocentrismo sustentado pela filosofia clássica, o racionalismo científico e artes? Não seria valorizar a ação social como um todo? Porém, não foi o que aconteceu. Parece que os pobres não eram humanos, por isso não foram contemplados por ações dos renascentistas. O discurso humanista era elitizadamente estratificado. Não fez nem pretendia fazer absolutamente nada em prol dos camponeses.


Nota-se que, a intenção proposta pela cultura Renascentista foi notadamente atrasada se comparada com a revolução religiosa (Reforma Protestante) empreendida pelos reformadores. A Renascença não difundiu a educação pública na Europa, porque foi um movimento elitista. O mecenato e os renascentistas viviam muito distantes das massas pobres e miseráveis do decadente sistema feudal.


Os que valorizam a educação concordam que, a Renascença não empregou esforços para ofertar educação a uma massa cujo índice de analfabetismo ultrapassava 95% de toda população da Europa, visto que as estruturas de dominação impostas pelo feudalismo só poderiam ser demolidas por uma força maior do que o clero, a nobreza e burguesia. Esta força veio por vontade de Deus sobre um homem que possuía muito pouco além de sua fé e confiança nas Escrituras, Martinho Lutero.


A Igreja Católica era a principal favorecida e interessada na manutenção da ignorância espiritual e secular dos seus “cegos fiéis”, pois a educação seria um dos instrumentos que libertaria a sociedade feudal do absolutismo político e religioso.


Na história dos países de viés católica, principalmente na idade média e moderna, a educação pública nunca foi prioridade, e quando houve algum empreendimento no sentido de oferecer ensino aos pobres da época, não era objetivo a formação da cidadania dos camponeses.


A educação era um privilégio da nobreza católica, ou seja, a educação era vendida de forma vergonhosa e preconceituosa. As crianças não tinham direitos de serem educadas, a não ser, se fizessem parte da nobreza de sangue (descendentes das famílias feudais).


Naquela época só eram educados a coroa, os nobres e o clero. Mas quando explodiu a Reforma Protestante, aconteceu um milagre nas mentes dos reformadores, eles decidiram educar a povo, pois eles acreditavam que, na educação estava o segredo para liberdade do homem.


A Renascença que tanto valorizou a cultura greco-romana fechou os olhos para duas palavras que certamente estavam presentes em seus encontros e reflexões: Republica (coisa do povo) e Democracia (o poder que emana do povo). Mas, os reformadores fizeram justamente o que os humanistas deixaram de fazer, tornaram a educação pública, ofertaram ao povo o instrumento mais forte do que o sistema feudal. É interessante a visão de Lutero. Ele afirma a importância da educação para o progresso de uma cidade, dizendo:

“O progresso não depende apenas do acúmulo de grandes tesouros, da construção de muros, de casas bonitas, de muitos canhões e da fabricação de muitas armaduras. Antes de tudo isso, o melhor e mais rico progresso para uma cidade é quando possui homens bem instruídos, muitos cidadãos ajuizados, honestos e bem-educados. Assim, eles poderiam acumular, preservar e usar corretamente riquezas e todo tipo de bens.” __ Martinho Lutero.

 

O sistema educacional nos países protestantes foi articulado entre a igreja e as coroas locais. Como a reforma influenciou toda Europa, logo, a Europa valorizou a educação popular. O que não acontecia nos países católicos.


Quando o Vaticano decidiu educar o pobre, ele não tinha como objetivo valorizar a formação da cidadania do povo. Na verdade só ofereceram os recursos humanos, os professores eram os membros das ordens monásticas (beneditinos, franciscanos, agostinianos, camilianos etc...), mas cabia aos poderes das cidades-estados (reis e príncipes) arcarem com todo custo da estrutura física, ou seja, o alto clero tinha um alvo, e não era o bem dos seus fiéis, o que estava por traz dessa mudança brusca, era a tirania da religião. Então, para a igreja católica, a educação do povo não foi o principal motivo de se ofertar o ensino, foi apenas um meio para alcançar um objetivo “maior”, a Contra Reforma.


A reforma influenciou toda Europa, logo, a Europa valorizou a educação popular, causa do grande desenvolvimento social da maioria dos países europeus. Isto não aconteceu nos países de tradição católica. Um exemplo, Grécia, Portugal, México, Brasil, Venezuela, Bolívia, entre outros. Estes têm os piores sistemas educacionais do mundo, o motivo: países que possuem uma extrema tradição católica.


Por outro lado, observamos a relevante contribuição da Reforma Protestante na Europa e América do Norte.


“A educação não é um valor em si próprio para os países de viés católicos, como é em um país protestante, a educação para os países de origem católica, é um valor como meio para se atingir alguma coisa. Exemplo: no Brasil a educação é vendida, dizendo-se: “Olha, quanto mais educado você for, você terá mais renda e oportunidade. “Mas, não que a educação seja um valor em si mesmo”.
Carlos Alberto Almeida – PhD, cientista político.


Um filósofo escreveu:
“Se Lutero tivesse sido queimado, como Huss, o início do Iluminismo teria ocorrido um pouco antes, e mais esplendidamente do que podemos imaginar agora”. __Friedrich Nietzsche.

Nietzsche estava completamente equivocado, porque durante o século que antecedeu a Reforma, o Humanismo não operou nenhum esforço nem prática que rebatesse o absolutismo político e religioso que roubava dos povos europeus a capacidade de questionar e analisar de forma racional e inteligente sobre sua condição político-religiosa.


Os racionalistas não suportam ter que engolir que foi a Reforma Protestante, e não o Humanismo que, além de lançar as bases do sistema educacional gratuito mais desenvolvido do mundo, investiu também os recursos humanos (pastores, mestres e doutores), e essa verdade, atormenta as confusas consciências dos “avisados incautos”.

 

Em 1500 na cidade de Eisenach – Alemanha, onde Lutero fez a preparação para a universidade, na Escola de São Jorge. Ele gostava especialmente do diretor, o mestre João Trebonius, que tratava seus alunos com amor e respeito. Um escritor conta que sempre que o Mestre Trebonius entrava na classe, esse tirava o chapéu e fazia uma inclinação de cabeça para os estudantes. Quando perguntaram-lhe por que fazia isso, respondeu: “Entre estes jovens discípulos, sentam-se alguns a quem Deus pode fazer nossos futuros líderes e homens eminentes. Ainda que não os conheçamos agora, é perfeitamente adequado que os honremos”.


É visível a relevante contribuição da Reforma Protestante na Europa, América do Norte, como também, embora tímida, nos países de tradições católicas que receberam missionários reformados.


As mais magníficas universidades do mundo foram fundadas por cristãos reformados, sendo várias delas criadas como instituições com fins de educação religiosa. Isto contraria a opinião infundada, de que a fé cristã seria um empecilho ao progresso científico e social da humanidade.

 

São incontestáveis as provas que a Reforma Protestante legou a Educação.

   ► Os cristãos representam mais de 31,5% da população do mundo e ganharam 65,4% dos prêmios Nobel, distribuídos entre 1900 e 2000.

 

   ► John Harvard, nascido em Londres, 26 de novembro de 1607, foi um pastor congregacional calvinista inglês e que após perder seus pais e irmãos que foram vítimas da peste bubônica, imigrou para Nova Inglaterra, viveu em Massachusetts, contraiu tuberculose, tendo feito uma importante doação à instituição que hoje tem o seu nome: a Universidade Harvard. Faleceu em 1638.

 

   ► A Universidade de Yale foi fundada em Connecticut em 1701 por um grupo de 10 pastores congregacionalistas liderados pelo pastor James Pierpont, para a formação de pastores. Seu primeiro reitor foi o Reverendo Abraham Pierson.

 

   ► A Universidade da Califórnia em Berkeley tem sua origem nos esforços dos pastores congregacionais Henry Durant e Samuel Willey. Eles fundaram em 1853 a Academia de Contra Costa, um colégio cristão secundário, que passou a ser uma instituição de educação superior em 1855.

 

   ► Universidade de Stanford foi fundada em 1885 pelo casal protestante Leland e Jane Stanford.

 

   ► A Universidade de Princeton foi fundada em 1746 por sete presbiterianos liderados pelo pastor William Tennent, a partir do Log College, um seminário teológico presbiteriano criado em 1726 pelo próprio Tennent.

 

   ► A Universidade de Chicago foi fundada em 1856 como uma instituição de ensino batista que faliu e foi reerguido em 1890 pela Sociedade de Educação Batista Americana, com auxílio financeiro do magnata do petróleo John Rockefeller, um batista fervoroso.

 

   ► João Calvino fundou a primeira escola primária da Europa em Genebra. O primeiro hospital público de Genebra foi obra dos Calvinistas, antes havia sido o Convento de Santa Clara.

 

É a por meio destes feitos que percebesse a grande contribuição da Reforma Protestante a Educação no mundo moderno e contemporâneo.
A Reforma Protestante condenou (colocou um prazo de validade) as perversas colunas da política e religião que sustentava o sistema feudal, colocando em risco a supremacia do clero e da nobreza que por mais de mil anos escravizou o mundo católico.


Quando um homem leu a luz de vela: “O justo viverá pela fé”.


___ “Somente a Escritura”.

 

Bibliografia:
Becker, Idel, Pequena História da Civilização Ocidental, 3ª edição, Ed. Nacional, 1968.
Cairns. Earle E, O Cristianismo Através dos Séculos, 3ª edição, Ed. Vida Nova, 2000.
Bíblia, Nova Versão Internacional, 2ª edição, Ed. Vida, 2011.

 

Pr. Jacó S. Peixoto
IEC em Cascavel/BA