CONTRIBUIÇÃO DA REFORMA: TRADUÇÃO DA BÍBLIA

 


Nesse segundo encontro pra falarmos sobre a Reforma Protestante, vamos nos concentrar na sua influência na Tradução da Bíblia.


Você sabia que houve um tempo em que não se lia, cantava, nem orava na sua língua nos cultos? Sim, é verdade! Havia uma língua sagrada para os cristãos, desde que o Império Romano se “converteu” ao cristianismo: era o latim, língua comum aos romanos. A tradução oficial da Bíblia era a Vulgata, também em latim, feita por Jerônimo, por volta do ano 400 d.C.


Qual o problema? O problema é que ninguém, senão o clero, a alta classe religiosa, sabia latim. E não havia nenhuma boa vontade desses religiosos em traduzir as Escrituras para a língua materna das pessoas, porque eles divulgavam que os leigos não tinham capacidade suficiente para ter acesso a Bíblia, precisando que se lhes interpretassem a Palavra de Deus. Dessa forma, a Igreja se colocou, por centena de anos, como a guardiã e mediadora dos desejos divinos para a humanidade. A Igreja, seu sumo-sacerdote, o Papa, os concílios davam a palavra final sobre a interpretação do texto bíblico.


O povo viva numa atmosfera de opressão e condenação imensa, pois toda a estrutura católica dizia que o mundo era povoado de demônios e que as pessoas estavam fadadas a uma eternidade de condenação. A única que poderia os livrar desse fardo era Igreja. Mas não gratuitamente: a compra de indulgências, ou seja, da remissão total ou parcial de castigos a serem pagos por sua alma no pós-morte, por pecados cometidos, era prática comum. Frequentar lugares “sagrados”, ter contato com relíquias (como “os pregos da crucifixão de Jesus”, ou os ossos dos apóstolos Paulo ou Pedro, por exemplo) poderiam te poupar de quase 20.000 anos no purgatório! Uau! Uma pechincha!


Contra essa e outras práticas comuns da teologia católica, entre os séculos XII a XV alguns conhecidos como “pré-reformadores” tentaram purificar a Igreja, em vão, porque foram perseguidos e alguns mortos, como foi o caso de John Huss. Entre eles, talvez o mais conhecido seja John Wycliffe, que traduziu a Bíblia do latim para o inglês. Ele, já no século XIV, defendia que as Escrituras deveriam ser a base da doutrina da Igreja.


No início do século XVI, o Papa Leão X, no intuito de deixar o seu nome conhecido na história por fazer de Roma uma “Cidade Santa”, aumentou a venda de indulgências, com uma remissão plena para quem ajudasse com qualquer quantia para a reforma da Basílica de São Pedro, além de nomear cardeais e arcebispos de acordo com suas contribuições para a Santa Sé.


Quando o inquieto e erudito monge agostiniano Martinho Lutero soube dessa campanha, que estava sendo encabeçada na sua região pelo frade Johann Tetzel, o qual dizia que “assim que uma moeda ressoasse no fundo do cofre, uma alma sairia do purgatório”, após uma série de sermões contra as indulgências, prega suas “95 teses” para serem debatidas contra o paganismo na Igreja, em 31 de Outubro de 1517, nas portas da Catedral de Wittenberg. É oficialmente “inaugurada” a Reforma Protestante!


Lutero foi o primeiro dos reformadores a disponibilizar na língua do povo uma tradução da Bíblia, em alemão, tarefa completada em 1534. Após ele, em 1535, Pierre Robert “Olivétan”, primo de João Calvino traduz para o francês; Cassiodoro Reyna o faz para o espanhol em 1569; em 1603, por Giovanni Diodati sai a tradução italiana; em 1611 a inglesa King James é publicada; em 1637 a “Bíblia do Estado”, holandesa; menção honrosa ao mártir William Tyndalle em 1529 havia publicado já o Novo Testamento em inglês, além do Pentateuco e livro de Jonas, uma das razões de ter sido levado à fogueira.


Em 1681 o pastor de origem portuguesa João Ferreira de Almeida publica o Novo Testamento em português. A versão final de dessa obra foi completada por colaboradores seus, após sua morte, lá pelos idos de 1753. As versões de Almeida são as mais difundidas no Brasil.


Ufa! Veja o quanto se percorreu até que você pudesse ter sua (s) Bíblia (s) em mãos. Pedi no último domingo para que os amados irmãos da igreja que pastoreio, folheassem, cheirassem, abraçassem seus exemplares pois foi com muita dor, esforço e sangue que essa Escritura estava disponível, às vezes em varias outras versões, para nós! O pilar da reforma Sola Scriptura (Somente a Escritura – A Escritura como única regra de fé e prática, única fonte de doutrina cristã e única palavra inspirada e autorizada por Deus) estaria comprometido se esses textos não fossem traduzidos para nossa língua e não chegassem a nós. Provavelmente ainda estaríamos na “Idade das Trevas”, preocupados apenas com demônios e em como livrar nossa alma e de nossos parentes do purgatório!


Mas o trabalho ainda não acabou. Segundo a Aliança Global Wycliffe (www.wycliffe.net), uma das organizações mundiais que apoiam projetos de tradução bíblica, das mais de 7.000 línguas existentes no mundo, somente 636 tem as Escrituras completas; outras 1442 tem o Novo Testamento e porções dele; ainda 1145 possuem apenas porções, com enfoque em algum personagem bíblico ou sobre o Natal e Páscoa. Há uma necessidade expressa ou potencial de tornar as Sagradas Escrituras conhecidas em mais 1.700 línguas, para quase 1,5 bilhões de pessoas que não tem a Bíblia completa em sua primeira língua. Quem sabe esses dados ardam em seu coração e você seja mais um chamado a contribuir com a divulgação da Palavra no mundo?


Diante disso, “... pregue a palavra. Esteja preparado, quer a ocasião seja favorável, quer não. Corrija, repreenda e encoraje com paciência e bom ensino” (2 Timóteo 4.2 – NVT). Sempre foi e sempre será ela, a Palavra de Deus, a única capaz de trazer mudanças permanentes ao coração humano.


Sola Scriptura.


No amor missionário de Cristo Jesus,

 


Pr. Diógenes Cardoso
IEC de Itaberaba/BA
Vice-Presidente da 34ª AR Baiano-Sergipana