Por Pr. Alexsandro Silva - IEC Vitória da Conquista
Chegamos até aqui depois de uma jornada maravilhosa tratada nos quatro artigos anteriores, foi bom constatar mais uma vez sobre “A Necessidade da Reforma”. Relembrar as contribuições da Reforma para a Tradução da Bíblia, bem como para a Educação e Economia. O objetivo deste breve artigo é apontar os caminhos e significados da Reforma Protestante para os nossos dias. Como as verdades relembradas na Reforma devem afetar a práxis cristã de hoje? Qual o legado espiritual desses 500 anos de história?
O significado da Reforma Protestante hoje para nossa dinâmica de vida cristã e eclesial só terá sentido se decidirmos voltar aos seus princípios fundamentais:
Voltar para uma fé genuína e fundamentada – SOLA FIDE
O evangelicalismo brasileiro a cada dia que passa tem sido maculado por uma série de movimentos e práticas que conflitam com as Escrituras, provocando um tipo de fé diferente daquela registrada em Judas 3, pela qual devemos: “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos”.
Precisamos reafirmar que a fé genuína no Cristo e sua obra é suficiente para salvar o pecador, de modo que as obras serão o atestado visível da obra operada em nós pelo Senhor da Igreja, de modo que nada é capaz de nos separar do amor de Deus que está em Jesus Cristo nosso Senhor.
Precisamos assinalar que essa fé deve ter um fundamento, que é a nossa Rocha inabalável e que está expressa de forma clara nas Escrituras, de tal maneira que a prática não pode ser contaminada pelos exageros humanos e a cobiça dos mercadores da fé. Por isso, abaixo todo artifício, campanha, objetos de culto, que sejam utilizados para substituir o SOLA FIDE. Cremos e isso nos basta.
Voltar para as Escrituras – SOLA SCRIPTURA
A Aliança de Evangélicos Confessionais que corresponde à boa parte dos pensadores cristãos dos EUA, reunida em Cambridge, Massachusetts, em 20 de abril de 1996, elaborou uma declaração, com o objetivo de reafirmar as convicções reformadas contidas nos Cinco Solas. Uma de suas afirmações é a seguinte:
“Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado. Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação”.
Em “As Dez Acusações Contra a Igreja Moderna” Paul Washer de cara aponta como acusação número um: UMA NEGAÇÃO DA SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS. O referido autor destaca que o problema da igreja de hoje não é quanto a inspiração ou inerrância das Escrituras, e sim quanto à sua suficiência. O autor indaga: “A bíblia é suficiente ou temos que introduzir toda suposta ciência social e estudo cultural para sabermos como conduzir a igreja?” (WASHER, p. 16).
Creio que é de suma importância resgatar tal princípio bíblico e reformado para a nossa prática cristã eclesial. Como povo Congregacional, precisamos levantar a bandeira da inerrância, como temos feito muito bem, porém tomando o devido cuidado para não sonegar o valor da suficiência da revelação divina registrada no santo livro.
Voltar para Cristo – SOLUS CHRISTUS
A obra de Cristo é plena e completa, ou eu tenho que fazer alguma coisa para conquistar minha salvação? E se faço alguma coisa, faço por meu esforço, o por causa da graça que está em mim? Mais uma vez me permita citar a declaração de Cambridge quando diz o seguinte:
“Reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai. Negamos que o evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e sua obra não estiver sendo invocada”.
A mensagem dos reformadores ainda nos fala hoje, no que tange à obra da salvação do Cristo, a qual é plena e na qual descansamos e recebemos refrigério na alma. É inadmissível que ainda tenhamos “indulgências”, travestidas numa falsa espiritualidade e reveladas nas ditas ‘campanhas’ e ‘sacrifícios’, as quais prometem uma vida terrena abundante sob o slogan PARE DE SOFRER. Mais uma vez declaramos Cristo é suficiente para salvar, sustentar na graça e abençoar com todas as sortes de bênçãos. Fomos feitos agradáveis no AMADO (Efésios 1:6).
Voltar para a Graça suficiente – SOLA GRATIA
A afirmação bíblica de Efésios 2:8 é chocante e mal compreendida por muitos cristãos, quando o apóstolo Paulo afirma: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus”. (2:8) Devemos nos perguntar: De fato creio que fui salvo pela graça? Tenho certeza que Deus me faz filho somente pelos méritos de Jesus Cristo e por sua infinita graça? Creio de fato que fui selado com o Espírito Santo para o dia da Redenção? Creio que Cristo continua operando sua salvação deste modo? Ou preciso utilizar meios psicológicos, sociais e até de marketing para atrair o pecador para Cristo?
Devemos nos voltar para a graça suficiente que continua operando, a graça é de fato escandalosa, pois nos lança no nosso devido lugar e nos mostra que estávamos totalmente depravados, mortos em nossos delitos e pecados e a graça do Eterno nos alcançou.
Voltar a dar a Deus a devida glória – SOLI DEO GLORIA
Se acreditamos que a fé na Obra do Cristo é o nosso fundamento, se a Escritura é o meio de entendermos a vontade de Deus, se Cristo e sua graça são suficientes para me alcançar, logo não me restará alternativa, a não ser Glorificar a Deus por sua obra plena e eficaz. O apóstolo Paulo afirma que a salvação: “Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:9).
Esse princípio reformado deve em nossos dias adaptar nossas liturgias para uma ação mais de glorificação pelo que já foi feito, derrubando todo culto à personalidade e ênfase naquelas coisas que queiramos que Ele nos faça. Deveríamos ser mais gratos e louvar a Deus com mais vigor pela sua obra plena. Nossos cultos de oração deveriam estar impregnados de gratidão, de orações de louvor pela grande obra do Cristo, porém o que vemos são pessoas que só gostam daqueles cultos de campanhas, em que algo “novo” virá das mãos de Deus para abençoar.
Que Deus nos ajude a ter uma fé genuína, a crermos mais na suficiência das Escrituras, a confiarmos na obra completa do Cristo e em sua graça maravilhosa e que Ele nos dê a graça de vivermos glorificando o seu santo nome. SOLI DEO GLORIA!
REFERÊNCIAS
BÍBLIA, Português. A Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição Revista e Atualizada no Brasil. Brasília: Sociedade Bíblia do Brasil, 2011.
EXPRESSÕES DO SOLA SCRIPTURA - A DECLARAÇÃO DE CAMBRIDGE. 2015. Disponível em: http://solascripturaemquestao.blogspot.com.br/2015/05/declaracaode-cambridge-1996.html Acesso em: 27/10/2017
HURLBUT, Jesse Lyman. História da Igreja Cristã. Ed. Vida: São Paulo. 2002, 255p.
WASHER, Paul. Dez Acusações contra a Igreja Moderna. Ed. Fiel. 2011, 112p.